Didáctica da Língua em Rede - Educação de Infância

Na era das TIC impunha-se a criação de um espaço de formação interactiva, complementar à vida da sala de aula. Aqui está ele! Aberto à publicação de textos, imagens, pedidos de ajuda, sugestões...Aqui está a possibilidade de continuarmos e explorar as potencialidades da nossa língua portuguesa. Enviem as vossas publicações para educinf@hotmail.com. Todos seremos poucos. Bem-vindos!!! ENDEREÇO PARA "POSTAGENS": educinf@hotmail.com JMCouto

20 outubro 2006

Poesia

Olá colegas. Tive ontem a oportunidade de ir a uma livraria, onde me
"perdi" no meio de tantos livros. Nunca sei o que devo procurar, mas sei
sempre o quero folhear e, ainda melhor, é que sei o que quero. Mas os livros
são tão caros. Considero tudo isto uma exploração...
No entanto, quero destacar a pouca importância que é dada à área da
Literatura. Na maioria das livrarias que frequento só vejo as pessoas
envolta de livros técnicos, livros de romance, revistas cor-de-rosa, etc.
A verdade é que também sou assim...
Embora hoje tenha sido diferente. Dirigi-me directamente, à prateleira da
Poesia.
Mas porquê? Até agora não sei muito bem justificar, mas sei que saí de lá
com uma vontade enorme de "devorar" e trazer algumas obras que chamaram a
minha atenção. Enfim...
Que dizem se partilhássemos poesia?
É um conteúdo Literário tão bonito, tão carregado de sentimento, de
significado...


CÂNTICO NEGRO

«Vem por aqui» – dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui»!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
– Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha Mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: «vem por aqui»?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí…

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios…

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
– Sei que não vou por aí!

(NOVAIS, Isabel Cadete. "Não vou por aí: José Régio antologia poética",
Quasi Edições, Vila Nova de Famalicão, 2000.)

Lembram-se???
Beijinhos,

Vânia Leal

2 Comments:

At 20/10/06 17:28, Anonymous Anónimo said...

Olá Vânia.

Fiquei agradavelmente surpreendida com o teu e-mail, apressando-me a publicá-lo.

Sempre tive curiosidade em saber qual a origem da famosa citação "Não sei para onde vou, - Sei que não vou por aí".
Apesar de adivinhar que sería um poema intenso, não deixei de me surpreender com o sentimento e intensidade dele.

Beijinhos
Diana Pereira

 
At 22/10/06 13:26, Anonymous Anónimo said...

Vânia muito obrigada por este poema...
E claro que me lembro! como é que não havia de me lembrar! lol
Um beijo cheio de certezas
Salomé

 

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