Didáctica da Língua em Rede - Educação de Infância

Na era das TIC impunha-se a criação de um espaço de formação interactiva, complementar à vida da sala de aula. Aqui está ele! Aberto à publicação de textos, imagens, pedidos de ajuda, sugestões...Aqui está a possibilidade de continuarmos e explorar as potencialidades da nossa língua portuguesa. Enviem as vossas publicações para educinf@hotmail.com. Todos seremos poucos. Bem-vindos!!! ENDEREÇO PARA "POSTAGENS": educinf@hotmail.com JMCouto

16 novembro 2006

Inquietações Pedagógicas

"Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso…” Jorge de Sena in Metamorfoses O MARKETING E A EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA Ou: Da necessidade de sermos (nós e as crianças) “consumidores” esclarecidos Estamos no “arranque” do novo ano lectivo. As caixas de correio (mesmo com avisos de “publicidade não, obrigado!”) enchem-se de panfletos, os nossos endereços electrónicos são invadidos por propostas aliciantes, as promoções são muitas, em qualquer loja onde me desloque perguntam se tenho “cartão de cliente” e enumeram-me vantagens sem fim em me “fidelizar” . Antes de férias, vi, nas “grandes superfícies”, escaparates com uma variedade enorme de livros de fichas para… “trabalhos de férias” para as crianças, mesmo para as mais pequenas… para quê? “escolarizar” ainda mais a entrada no jardim de infância? E o direito inalienável da criança… BRINCAR, consagrado na Convenção dos Direitos da Criança? Entretanto, continuamos a ser um dos países europeus que menos lê, que menos compra livros, considerados um produto “quase” de luxo, que menos entende a matemática como forma de organizar a vida, de resolver problemas e de estruturar o pensamento. Esta contradição confrange-me. Ouvi há dias o Manuel Jacinto Sarmento, numa das suas brilhantes análises sociológicas sobre a infância, falar no “mercado de serviços” para as crianças, no “franchising” de produtos para as crianças, no mercado de materiais didácticos” para os jardins de infância, nos processos de “marketing” que invadem as mentes das crianças e as bolsas dos seus pais. Lembro a quantidade de materiais didácticos que começaram a surgir no mercado desde que, em 1997, se publicaram as Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar, muitos – tenho a obrigação moral de o dizer publicamente! – de muita fraca qualidade e adulterando os princípios pedagógicos subjacentes a esse documento orientador. Habituei-me desde sempre, como educadora, a trabalhar com materiais e recursos limitados, investindo sobretudo em materiais que possibilitassem a expressão livre das crianças. Compreendo que os tempos são outros. Mas tenho consciência quanto hoje é mais difícil para os educadores fazerem escolhas esclarecidas e responsáveis e de como, eventualmente, serão as próprias famílias a perguntar, no arranque do ano lectivo, qual é o “manual” para os 5-6 anos ou a colecção de “fichas” que devem comprar.... Como formadora de futuros educadores tenho consciência de que a minha instituição deve informar e formar os estudantes nessa matéria, chamando a atenção para a estética dos materiais, para a sua correcção em termos de multiculturalidade ou na não promoção de estereotipos de género. Não me parece que isso baste e afirmo que, numa lógica de “prestação de serviços à comunidade”, temos que ajudar os educadores de infância a fazerem selecções criteriosas dos materiais que colocam nos seus jardins de infância e, decorrentemente, dos modelos explícitos e implícitos que passam às crianças e às suas famílias. Com o Manuel Jacinto Sarmento afirmo “lógicas de acção que recusem a dominação” e “lógicas de acção que afirmem os Direitos da Criança” e promovam “uma concepção alternativa de uma cidadania da infância” nos tempos que são os de hoje. Uma cidadania esclarecida, que faça escolhas conscientes, que não deixe poluir a ética e a estética das suas vidas com produtos que não serão os de… primeira necessidade!
Teresa Vasconcelos Setembro de 2006 ( Publicado por Inquietações Pedagógicas )

Sara Silva

4 Comments:

At 16/11/06 20:59, Anonymous Anónimo said...

Boa noite Sara. Realmente o texto é um pouco extenso, mas se queremos estar a par de tudo que diga respeito às nossas crianças, vale a pena ler. Ainda mais sendo escrito por Teresa Vasconcelos, uma grande guia e pilar para a nossa formação. A realidade em que vivemos é esta. Ainda hoje me deparei com a notícia de uma feira, onde os pais podem escolher qual a melhor educação para os seus filhos. Ainda estes dias me deparei, numa papelaria, com livros de grafo-motricidades para as crianças do jardim de infância. Porquê? Não será muito mais importante para as crianças, para o seu desenvolvimento, brincar do que, pura e simplesmente, entretê-las a fazer fichas, para que estejam sossegadas e não incomodem muito as "conversas (im)pertinentes" dos adultos que estão com eles na sala de actividades? Mas a realidade com que contactamos é esta mesma. Leiam este artigo amiguinhas. Temos de ponderar e reflectir acerca da nossa própria prática pedagógica.

Carla Almeida

 
At 17/11/06 22:18, Anonymous Anónimo said...

Olá!

Sara, realmente o texto é um bocadinho longo, mas achei bastante pertinente esta infrmação que decidiste partilhar connosco, obrigada!

 
At 18/11/06 15:50, Blogger Carla Marina said...

Adorei o texto! Tenho tanta pena dos milhares de crianças que cada vez têm menos tempo para brincar. Já que tem que ser tudo tão rigoroso, o tempo para a brincadeira não deveria vir também contemplado nos programas do Ministério da Educação?
beijocas

 
At 18/11/06 16:28, Anonymous Anónimo said...

Na minha opinião, o texto é muito intersante e todas nós devemos o ler e reflectir sobre o mesmo.

Beijinhos
Cecília Pinto

 

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